quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

HGE: O triste relato de quem precisa do atendimento público


Indiferença, frieza, desumanidade. Foi assim que as pessoas entrevistadas por esta blogueira descreveram o atendimento dos funcionários do Hospital Geral do Estado (HGE). Depois de uma semana frequentando o hospital, presenciando cenas que iam de pessoas desesperadas pelo estado de saúde de seus parentes, outras enfurecidas com o descaso no atendimento de quem vê a vida de um ente querido nas mãos da saúde pública, pacientes pelos corredores, no chão, o mal humor de quem trabalha na recepção e no serviço social, a impaciência dos enfermeiros e enfermeiras, pode-se perceber que é mesmo desesperador depender deste hospital público.

Dentre as pessoas abordadas no HGE, uma que chamou a atenção foi dona Benedita Rosa de Lins, de 72 anos. Aparentando muita preocupação, ela contou seu caso aos prantos. A aposentada disse que seu filho de 48 anos está internado com um problema grave de estômago. “Há um mês que ele vomita sangue, fica indo da UTI para a semi-UTI. Melhora e depois piora. Os médicos precisam de um exame para saber o que ele tem, mas dizem que a máquina está quebrada. O que eu não consigo entender é como um hospital público pode passar mais de um mês com um aparelho importante como esse quebrado”, desabafou Benedita.

Ela estava falando da máquina que realiza o exame de colposcopia, específica para o estômago. Segundo o HGE informou para a senhora, a máquina estava sendo consertada, e só então o filho dela poderia realizar o exame. “Enquanto isso meu filho está lá dentro, correndo risco de morte. Só Deus para nos confortar numa hora dessas. É muito doloroso para uma mãe ver o filho morrendo e não poder fazer nada, apenas depender da boa vontade dessas pessoas que nos atendem tão mal”, disse.

Dona Benedita disse que fez empréstimos no banco para poder realizar alguns exames em clínicas particulares, mas sua aposentadoria está reduzida devido a esses empréstimos, e que ela não tem mais como pagar pelo tratamento do filho. “Ele precisa fazer com urgência esse exame, mas infelizmente já gastei tudo o que eu tinha com remédios, táxis. Se precisar vou até o Palácio apelar com o governador. Não quero que meu filho morra por falta de atendimento, sem saber o que tem. O hospital é que tem a responsabilidade de fazer o exame e descobrir o que meu filho tem”.

Hospitalizado há um mês, Carlos Alberto da Silva, de 58 anos, tem câncer e está com metástase, que é a formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra. Ele precisa ser transferido com urgência para o Hospital Universitário, porque em Alagoas, lá é o único lugar onde existe o tratamento de oncologia, que é o que ele precisa.

Muito revoltada, a filha de Carlos Alberto, Carline Vitalino da Silva, de 28 anos, conversou comigo, e disse que durante todo o mês ela vem tentando conseguir a transferência do pai. “Meu pai precisa fazer uma biopsia para saber onde está o câncer, mas o HGE não faz o exame e nem transfere logo meu pai. Eu já procurei a secretaria de saúde, mas um fica jogando a responsabilidade no outro. A assistência social desse hospital não responde meus questionamentos, são uns irresponsáveis. Nunca tem ninguém para resolver nosso problema. Só queremos transferir meu pai para que ele seja tratado em outro hospital, já que aqui eles não podem cuidar dele”, disse Carline.

“Eu estou revoltada com o atendimento desse lugar. Meu pai está em uma ala específica para pacientes terminais de câncer e as enfermeiras tratam ele como se ele fosse um objeto, uma folha de papel. Meu pai é um ser humano. Queremos que ele seja tratado e curado”, desabafou.

Carline pede para que se alguém ler esta matéria e possa ajudá-la na transferência de seu pai, que por favor entre em contato com pelos telefones 8833-5703 ou 9934-5838.

Valdir da Silva, de 27 anos, está com uma bala alojada no joelho há mais de um mês, depois de ter sido baleado em uma briga. O hospital informou a ele que a máquina de raio x também estava sendo consertada, e há dias ele vem ao HGE esperar que o exame seja realizado para que ele possa saber como tratar do joelho. “Meu joelho está com um problema sério, dói muito, estou mancando. A bala está alojada entre os ossos, e eu preciso do exame para saber se será necessário fazer uma cirurgia”, disse Valdir.

O jovem disse que estava há mais de três horas esperando para fazer o exame, mas que não sabia se conseguiria. “Já vim aqui várias vezes marcar, mas eles ficam adiando. As pessoas que trabalham aqui são muito frias. Eu fiquei mais de um mês internado e com apenas três dias de operado, devido a outro disparo na barriga, a enfermeira me deixou sozinho no banheiro. Eu não conseguia nem falar de tanta dor. Eles não têm nenhum cuidado com os pacientes, já estão acostumados a ver as pessoas sofrendo, morrendo e para eles é só mais um”, desabafou.

“Eu aposto que se fosse com a família deles, com certeza eles cuidariam melhor. Enquanto eu estava internado, sentia dores e chamava a enfermeira, ou o médico para reclamar, mas muitas vezes eles fingiam que não me escutavam. Nós temos o direito de ser bem tratados, pagamos impostos e acima de tudo somos seres humanos. Pedi muito e peço a Deus para nunca mais precisar desse hospital”.

Como julgar os culpados por esta situação? O Governo por não disponibilizar uma saúde pública digna à população que paga seus impostos e tem direito a um bom atendimento? As pessoas que cursam faculdade de medicina, enfermagem, serviço social e não cumprem seus juramentos de cuidar da vida humana, do bem estar das pessoas e se tornam profissionais desqualificados?

Infelizmente só reconhecemos o que essas pessoas que dependem dos hospitais públicos sofrem, quando passamos por um situação semelhante. Mas não se deve esperar acontecer consigo ou com pessoas queridas para começer a exigir os direitos de cidadão.

Thayanne Magalhães (texto e foto)