terça-feira, 26 de abril de 2011

Conheça Limoeiro, a vila mais antiga do Brasil

Fundada pelo português Antônio Carlos de Melo, em 1700, a Vila Limoeiro é a mais antiga do Brasil, segundo conta o historiador Francisco Alves Feitosa, mais conhecido como Chico Marceneiro, de 78 anos. “O português chegou de navio pelo Rio São Francisco e construiu a primeira casa da vila, que existe até hoje. O local vivia das plantações de arroz, algodão e da pesca. Hoje em dia a pesca é muito fraca e os moradores da vila vivem mais de aposentadorias”, contou Chico.

Segundo Chico, Limoeiro, que é um povoado pertencente ao município de Pão de Açúcar, é considerada a vila mais antiga do Brasil porque não existe nenhuma outra com 311 anos que ainda não tenha se emancipado, se tornado cidade. “Nossa grande preocupação hoje em dia é com as características históricas. As pessoas estão destruindo as casas antigas e modernizando a vila, e a maioria dos jovens não ficam aqui, vão embora para a cidade grande tentar a vida. Queremos preservar a história, mas para isso é preciso o tombamento da Vila Limoeiro”, disse o historiador.

Andrade, disse que está lutando para que o Governo do Estado tombe a vila e proíba a destruição e modernização das casas centenárias. “Tem morador da vila que vende as casas por muito pouco, porque desconhecem o valor histórico que elas possuem. Todos os anos, duas ou três casas são destruídas e, se não tombar logo, a vila vai perder toda a sua característica”, afirmou preocupado.

A Igreja Matriz
Construída em 1703, a Igreja de Jesus, Maria e José, padroeiros da Vila Limoeiro, tem paredes com 70 cm de espessura. “Na época não existia cimento, os escravos carregavam as pedras e a construção foi erguida com barro grosso e cabaú, o mel retirado da cana-de-açúcar”, conta Chico.

Segundo o historiador, as imagens originais dos santos foram roubadas, mas a igreja ainda preserva a sua aparência de séculos atrás.

Uma igrejinha erguida no banco de terra conhecido como Murim, há 250 anos, já foi tombada. A construção pode ser vista de longe pelos moradores da vila.

A passagem do Imperador
Chico Marceneiro conta em detalhes como foi a passagem do Imperador Dom Pedro II pelo Rio São Francisco, às margens da Vila Limoeiro. “Há 150 anos o imperador passou por aqui em seu navio Pirajá. Dom Pedro usava um relógio de bolso, com algarismos romanos, fabricado em Genebra, na Suíça, em 1844. A marca era Estrada de Ferro.

Segundo Chico, o comandante do navio de Dom Pedro era o Almirante Tamandaré, Joaquim Marques Lisboa, patrono da Marinha Brasileira. “Eles passaram aqui pela vila e seguiram para Pão de Açúcar, que já era emancipada há cerca de cinco anos. Lá o imperador pernoitou e no dia seguinte teria seguido para Piranhas”.

História dos moradores
Durante a reportagem, a equipe do Primeira Edição encontrou na Vila Limoeiro alguns moradores mais antigos, com histórias no mínimo, curiosas. Dona Maria Bezerra Lima, de 92 anos, disse que dançou em um baile com Lampião, famoso cangaceiro do Sertão nordestino. “Ele chegou na festa com o bando dele e me chamou para dançar. Isso aconteceu em 1936, na época eu já estava noiva e meu noivo quase rompeu comigo. Mas, Lampião era temido e as moças tinham que dançar com ele até amanhecer o dia”, lembra a senhora.

Dona Maria Bezerra é uma das mais antigas moradoras da Vila e ainda muito lúcida, também se preocupa em preservar o patrimônio histórico. “As pessoas precisam parar de derrubar as casas antigas para fazer casas novas. A Vila precisa ser preservada para que outras gerações também possam conhecer a história e ver como eram as casas de antigamente”, indagou.

Descendentes do policial que matou Lampião
Em Limoeiro, a equipe de reportagem do Primeira Edição também encontrou Ana Dayse Souza Ramos, de 53 anos. Ela é filha do policial Anisete Rodrigues da Silva, que era o comandante da volante que matou Lampião no dia 28 de junho de 1938. A mulher não chegou a conhecer seu pai, que foi assassinado quando ela ainda era um bebê.

“Depois do assassinato de Lampião e seu bando, Anisete ‘virou’ delegado de Pão de Açúcar, e foi quando eu o conheci e nós namoramos. Desse namoro nasceu nossa filha. Mas, na época ele enfrentou o coronel da cidade, Elísio Maia, e acabou sendo metralhado em uma emboscada. Infelizmente minha filha não pode conhecer o pai”, contou Georgina Souza, de 75 anos.

A filha do policial militar decidiu ir conhecer seus irmãos, os dois filhos que Anisete tinha com a esposa legítima, e descobriu que a família vivia bem. “Tenho certeza de que se meu pai fosse vivo, eu teria tido uma vida melhor. Minha mãe me criou com muita simplicidade e não soube exigir meus direitos, mas Deus sabe o que faz”, disse Dayse.

E assim, tendo ido conhecer e falar sobre a vila mais antiga do país, encontramos personagens que vivenciaram momentos marcantes da história do Brasil. É a História viva, podendo ser contada por quem estava presente ou ouviu de seus antepassados o que se passou há dezenas de anos atrás.

Thayanne Magalhães (fotos e texto)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

400 anos: conheça um pouco da história de Pão de Açúcar

Fundada em 1611, a cidade alagoano de Pão de Açúcar teve como seus primeiros habitantes os índios da tribo Urumaris, que, segundo conta a História, teriam sido expulsos pela tribo dos Chocós das terras da Ilha São Pedro, no lado sergipano do rio São Francisco, e começaram a habitar as terras da outra margem.

Segundo o secretário da Cultura, Turismo e Comunicação de Pão de Açúcar, Hélio Fialho, os Urumaris batizaram o lugar com o nome de Jaciobá, primeiro nome dado à cidade, que significa “Espelho da Lua” em guarani. “Conta a história que nas noites de luar as águas do rio São Francisco ficavam com um reflexo que fazia surgir um fio de cristal e os índios achavam o reflexo parecido com um espelho”, contou Hélio em entrevista ao Primeira Edição.

“A cidade poderia se chamar Jaciobá até hoje, seria mais histórico, mas, os portugueses chegaram e mudaram o nome. Lourenço José de Brito Correia chegou em Pão de Açúcar e começou a criar gado e a comercializar pau brasil. Ao contrário do que muitos pensam, a cidade nunca teve nenhum engenho de cana-de-açúcar, nunca houve essa cultura. O nome que a cidade tem hoje se deve ao fato da casa grande da fazenda do português ter sido construída próxima do morro, e olhando de longe parecia uma forma usada para clarear e purgar açúcar”, explicou o secretário.

Com a prosperidade da fazenda do português, Pão de Açúcar tornou-se vila e, no ano de 1877 foi elevada à categoria de cidade.

No dia 29 de janeiro de 1950, foi inaugurado o Cristo de Pão de Açúcar, semelhante ao monumento erguido no morro do Corcovado, no Rio de Janeiro. A obra é do escultor João Lisboa, nascido em Pão de Açúcar.

O Cristo mede 14,80 cm de altura com o pedestal, sendo a imagem de 10m. Do alto do Cristo pode-se ver toda a cidade e o São Francisco, além das diversas praias e a comunidade de Niterói, localizada na outra margem do rio, em Sergipe.

A população de Pão de Açúcar é formada pela mistura de índios e brancos, que viveram por muitos anos basicamente da pesca e da agricultura.

A visita do imperador Dom Pedro II
Um fato histórico destaque na cidade é a visita do imperados Dom Pedro II que pernoitou em Pão de Açúcar nos dias 17 e 22 de outubro do ano de 1859. Em seu diário de viagem, guardado no Museu Imperial, Dom Pedro conta sobre sua passagem e tece elogios à vila. “A vista do Pão de Açúcar é bonita”.

O imperador descreve como foi a sua chegada à Pão de Açúcar e relembra detalhes da recepção. “Cheguei por volta das 8 ao Pão de Açúcar. Receberam-me com muito entusiasmo e um anjinho entregou-me a chave da vila. Defronte desta povoação há uma grande coroa de areia, que me cansou atravessar e com a luz dos foguetes, que não têm me faltado por todo o rio”.

No diário, Dom Pedro descreve também o outro dia que esteve em Pão de Açúcar. “Acordei antes das 5, e pouco depois fui dar um passeio pela vila. A matriz é pequena, mas decente, só tem inteiramente pronta a capela-mor, o resto acha-se coberto. Há uma bela rua direita longa e muito larga, e outra perpendicular também direita, porém menos longa e larga. Só vi uma casa de sobrado, a da Câmara, onde me hospedei”.

O sobrado onde se hospedou o imperador Dom Pedro II será reformada, segundo afirmou o secretário Hélio Fialho, e será transformada em museu. “A atual gestão tem a preocupação de preservar a cultura e a história do município. Vamos reformar o sobrado e Pão de Açúcar terá mais um atrativo turístico, que contará um pouco da história do nosso país”.

Texto e fotos: Thayanne Magalhães