Afirmação é de médica visitadora da Unidade Neonatal do Hospital
Universitário (HU); só no em 2013 foram registrados oito óbitos
Em
pauta a obrigatoriedade do Teste do Coraçãozinho nos hospitais públicos de todo
o país, determinada pelo Ministério da Saúde e publicada no Diário Oficial da
União desde junho passado. Mas, o que a equipe de reportagem do jornal Tribuna
Independente descobriu vai além da falta de médicos capacitados e equipamentos
para a realização do teste nas maternidades públicas de Alagoas. “A criança com
cardiopatia em Alagoas está fadada a morrer. Se não houver uma intervenção do
Ministério Público para ‘obrigar’ que o recém-nascido seja tratado em algum
hospital particular, ele certamente vai morrer na fila de espera. Somente no
ano passado, foram registrados oito óbitos de crianças diagnosticadas com
problemas cardíacos”, afirma a médica visitadora da Unidade Neonatal do
Hospital Universitário (HU), Ana Maria.
A
pediatra afirma ainda que o problema não está somente em Alagoas. Segundo Ana
Maria, crianças de todo o país aguardam Tratamento Fora do Domicílio (TFD), mas
a falta de leitos para a realização das cirurgias ou transplantes culmina na
morte de muitos pacientes.
O HU
deve realizar concurso público no próximo semestre e, de acordo com a médica, haverá
uma vaga para cardiologista infantil. “A questão não é a realização do teste do
coraçãozinho. Alguns hospitais públicos têm o equipamento necessário. O
problema é que, se for detectado algum problema cardiológico no recém-nascido,
ele não terá como passar pelo ecocardiograma, porque não existe o equipamento
para a realização desse exame em bebês em todos os hospitais”, explicou.
Em
contato com o cardiologista Wanderley Neto, descobrimos que a situação é ainda
pior do que se imaginava. “Os hospitais não querem investir em cardiologia
pediátrica. Não temos profissionais capacitados, nem estrutura para atender
pacientes na área. As crianças e os idosos são quem mais sofrem com essa situação”,
afirmou o médico.
“O
Ministério da Saúde diz que se não houver atendimento onde estiver o paciente,
que ele seja encaminhado para outro hospital. Mas a fila é muito grande. Não
temos leitos, enfermarias e nem UTIs pediátricas para atender a demanda de
pacientes”, concluiu o médico.
Para o
doutor Ricardo César Cavalcanti, diretor médico do Hospital do Coração, a
obrigatoriedade do Coraçãozinho pode contribuir consideravelmente para a
redução da taxa de mortalidade neonatal. De acordo com dados da Sociedade
Brasileira de Pediatria, entre 30% e 40% dos bebês que têm problemas cardíacos
graves, recebem alta das maternidades sem o diagnóstico. Uma em cada mil
crianças sofre de cardiopatia congênita crítica, problema que responde por
cerca de 10% dos óbitos infantis e de 20% a 40% dos óbitos decorrentes de
malformações.
“O
procedimento é simples, rápido e indolor, mas, por ser ainda uma tecnologia
nova, leva um tempo até que os profissionais absorvam e incorporem à rotina. É
preciso que a sociedade tome conhecimento do exame para que as pacientes cobrem
dos seus médicos a realização do teste em seus bebês ainda na sala de parto”,
afirmou o cardiologista.
De
acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria de Estado da Saúde
(Sesau), “os técnicos da saúde ainda vão passar por capacitação e os hospitais
ainda irão receber os equipamentos necessários para a realização do exame”. Já
a assessoria de comunicação da Maternidade Escola Santa Mônica, informou que o equipamento
existe em algumas maternidades públicas, porém, a prática não é tão comum. “Os
recém-nascidos podem realizar esse exame ainda no leito, junto da mãe. Esse
teste pode identificar problemas cardíacos que podem vir à tona ainda no
primeiro mês de nascimento, no entanto, não existe equipamento suficiente para
todas as unidades públicas de saúde. Apesar da obrigatoriedade do Ministério da
Saúde, é preciso analisar a estrutura e as condições dos hospitais públicos, e
isso pode levar um tempo”, explicou a assessoria.
Ainda
não há previsão de quando o teste se tornará obrigatório nas maternidades
públicas de Alagoas.
“Já
estivemos reunidos com a Sesau e o Estado já começou a se articular junto com o
Município para que o exame comece a ser realizado nas maternidades públicas”,
informou a coordenadora do Programa da Saúde da Criança da Capital, Alda
Tenório. Segundo ela, independente de ser particular ou público, os hospitais
serão cobrados para que se comece a ser feito o teste em todos os
recém-nascidos o quanto antes.
“A
portaria do Ministério da Saúde chega até nós e nós encaminhamos para todas as
maternidades, independente de serem públicas ou particulares”, explicou.
Ainda
de acordo com as informações de Alda, todos os médicos deverão passar por
capacitação e todas as maternidades públicas devem receber os equipamentos
necessários para a realização do teste. “Não deve demorar. Em pouco tempo o
teste já estará sendo realizado em toda a rede pública e, as maternidades que
já possuem os equipamentos, já devem realizar o exame em todos os
recém-nascidos”, concluiu.
O que
se espera, é que junto com o Teste do Coraçãozinho, as maternidades públicas
tenham também estrutura para tratar dos recém-nascidos diagnosticados com
problemas cardíacos. E que as mães dessas crianças não vivam a aflição de
imaginar que seu filho está fadado à morte por nascer com alguma cardiopatia.
O que é o Teste do Coraçãozinho?
O exame
de Oximetria de Pulso, mais conhecido como Teste do Pezinho, serve para
detectar e prevenir problemas cardíacos em recém-nascidos, e consiste em medir
a oxigenação do sangue e os batimentos cardíacos do bebê com o auxílio de um
oxímetro – espécie de pulseirinha – instalado nos primeiros dias de nascimento
no pulso e no pé.
Além do
Teste do Coraçãozinho, outros dois exames fazem parte da triagem Neonatal, o da
Orelhinha, que se tornou obrigatório em 2010 e deve ser feito prioritariamente
durante o primeiro mês de nascimento. O teste do Pezinho, também obrigatório na
rede pública, é um exame feito a partir de sangue coletado do calcanhar do
bebê. O procedimento permite que se identifique doenças graves e deve ser feito
a partir de 48 horas do nascimento até os 30 dias. Outro teste recomendado pelos
pediatras é o Teste do Olhinho, que ainda não é obrigatório na rede pública de
saúde. Ele deve ser realizado nas primeiras 24 horas de nascimento do bebê.
Thayanne Magalhães para Tribuna Independente em Julho de 2014.
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