segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Denúncia: bar vende pílula do dia seguinte ilegalmente



Leia também a matéria sobre a venda irregular de medicamentos na edição deste domingo do O JORNAL, já nas bancas

Recomendada apenas para situações de emergência, a chamada "pílula do dia seguinte" serve para evitar gravidez indesejada, mas só pode ser vendida em farmácia, com receita médica. Entretanto, em Maceió é possível adquirir o medicamento até mesmo em bares, de forma indiscriminada.
Após uma semana de investigações, colhendo provas e informações, a equipe do Alagoas Agora, junto com O Jornal, descobriu que a rede de bares QG vende indiscriminadamente pílulas do dia seguinte e outros medicamentos. Nossa equipe esteve em quatro filiais do QG e em três deles as pílulas já haviam sido todas vendidas, o que prova que é bastante consumida pelas jovens que freqüentam o bar.
Num dos bares visitados, localizado no Stella Maris, o produto estava disponível e não houve restrição nenhuma por parte do garçom em atender ao pedido. Não foi exigida a prescrição médica, nem houve discrição na hora de entregar a caixinha de comprimidos, da marca DIAD. Quando a repórter desistiu de comprar, uma garçonete aconselhou que tomasse o remédio, já que a suposta "besteira" já havia sido feita. Então, foi dito que se usava outra marca, e a garçonete insistiu em dizer que o efeito seria o mesmo.
Uma caixa foi comprada com nota fiscal para comprovar que o produto foi adquirido no QG.
Um garçom do estabelecimento do Farol informou que o medicamento já é vendido no bar há mais de seis meses, e é muito procurado.
Efeitos colaterais
Especialistas ouvidos pelo Alagoas Agora alertam que esse medicamento pode até evitar uma gravidez indesejada, mas não protege as mulheres contra doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS.
A técnica em enfermagem Myllena Lied disse que a pílula do dia seguinte possui uma dosagem de hormônio equivalente à meia cartela de anticoncepcionais e pode causar efeitos colaterais no organismo das mulheres que a tomam constantemente.
"O ciclo menstrual da mulher pode ficar alterado. Também pode provocar dores de cabeça, náuseas e sensibilidade nos seios. A pílula não deve ser usada para substituir a camisinha, pois não previne contra doenças. Ela só deve ser tomada em último caso", esclareceu Myllena.
O Alagoas Agora entrou em contato com a Inspetoria de Farmácia, órgão ligado à Vigilância Sanitária, e conversou com a farmacêutica Paula Lacerda. Foi perguntado quais seriam os procedimentos que a Inspetoria tomaria se houvesse uma denúncia contra o bar. Segundo ela, os remédios seriam recolhidos e o estabelecimento multado.
"Nenhum remédio, seja ele qual for, pode ser vendido em outro estabelecimento que não seja uma farmácia. Nem nos supermercados é permitida a venda de produtos farmacêuticos", afirmou Paula.
Ela disse ainda que a pílula do dia seguinte só pode ser vendida com prescrição médica, por ser um remédio de dosagem alta de hormônios.
"Mesmo se for comprado em farmácia, precisa de receita. Não é um remédio que pode ser vendido para qualquer pessoa", concluiu a farmacêutica.
Presidente da Associação Médico-Espírita, o cardiologista e itensinvista da maternidade Santa Mônica, Ricardo Santos, condena o uso da "pílula do dia seguinte" e afirma que se trata de uma prática abortiva.
"O que a pílula do dia seguinte faz? Elimina o embrião caso este tenha sido fecundado ou não; o aborto no nosso país é crime, e esse estabelecimento que vende esse medicamento sem prescrição médica está cometendo um crime. É absurdo, imoral e irresponsável", afirmou o médico.
"É preciso que as autoridades médicas e policiais tomem uma providencia; isso se trata de uma atitude danosa contra a sociedade, moral e religião, que está colocando a saúde de várias jovens em risco", completou Ricardo Santos.
Legislação
A estudante de Direito Louise Peixoto, que estava presente no dia em que a pílula foi comprada pela equipe de reportagem do Alagoas Agora, disse ter achado absurda a venda indiscriminada desse produto e fez uma pesquisa na legislação brasileira sobre as leis que proíbem esse tipo de conduta.
"Quando vi no cardápio o item 'pílula do dia seguinte', achei um absurdo. Por curiosidade e na condição de estudante de Direito, resolvi pesquisar sobre o assunto. Ao ler a Lei 5991, de 17 de Dezembro de 1993, que trata sobre o controle sanitário de comércio de medicamentos, descobri que o bar age com irregularidade", disse Louise.
A lei é taxativa ao afirmar ser privativo o fornecimento de medicamentos ao consumidor, por farmácias, drogarias e distribuidoras, abrindo exceção quanto aos estabelecimentos hoteleiros e similares, quando se tratar de medicamentos que não dependam de receita médica.
Além disso, para que tais estabelecimentos funcionem é imprescindível seu licenciamento pelo órgão sanitário competente dos Estados, sendo requisito para tal pedido de licenciamento a assistência do técnico responsável, inscrito no Conselho Regional de Farmácia, durante todo o horário de funcionamento.
Ou seja, o QG não é farmácia, não é hotel e tampouco dispõe de um técnico farmacêutico responsável para administrar a venda dos medicamentos lá comercializados.
Louise ainda disse se sentir indignada com a falta de respeito do bar, que pouco se importa com o bem-estar dos seus clientes e prioriza o lucro.
"Isso é revoltante. Ver pessoas que se preocupam muito mais com o financeiro e colocam em risco a saúde de seus clientes, sem respeitar qualquer norma," desabafou a estudante de Direito, que disse não pretender mais freqüentar o estabelecimento.
A pílula do dia seguinte não protege contra a AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis. A melhor opção para um sexo saudável é a camisinha. Essa sim pode ser vendida em supermercados, farmácias, boates, mercadinhos, bares e, inclusive, é distribuída gratuitamente em postos de saúde.
Outros detalhes na Edição de O Jornal que circula neste domingo.
Fonte: Com Láyra Santa Rosa - O JORNAL

7 comentários
hebely nutels franca [hebelly@hotmail.com]
Realmente e um absurdo ... a primeira vez q fui a esse bar tem pouco mais de um mes e quando observei esses itens achei um absurdo um bar vender pilulas do dia seguinte e outros itens!!! ABSURDO TOTAL
17/01/2009 20h10
PETRUCIO SOARES [petrucio.soares@hotmail.com]
Isso é lamentavel, acho uma demonstração de visão empresarial prostituída, com certeza a mãe ou os filhos dos sócios deste estabelecimento não o frequentam e se frequentam, fica criado mais uma modalidade de grupamento, que não se pode chamar de Família. Autoridades usem apenas a Lei. ALERTA!!!
17/01/2009 19h05
Rafael Alves [jornalistarafael@gmail.com]
É lamentável uma cena como esta em nossa cidade, parece que Maceió virou terra de ninguém. Parabéns a Thayanne que se mostrou muito competente nesta matéria investigativa.
17/01/2009 17h03
Alda Alves [dinhhaaa@hotmail.com]
ótima reportagem! A fiscalização nos bares é precaria. Não somente esse assunto abordado mas como a venda abusiva de alcool para menores entre tantos outros temas. Espero que com a compêtencia dessa denúncia algo seja resolvido para que principalmente menores não seja o grande alvo de um comércio abusivo e sem medidas legais.
17/01/2009 16h38
Joao Costa [jjcosta@bol.com.br]
sera q este ambiente tb não esta a vender drogas ilicitas, tais como maconha, e por aí vai. A eles a legislação. São contraventores e criminosos
17/01/2009 16h25
Álvaro [c.artman19@hotmail.com]
São por atitudes deste tipo que hoje e a cada dia que passa os points de Maceió são tarjados como ambientes familiares e ambientes de zona.
Essa zona no sentido da falta de respeito do ambiente. Um ambiente que ultrapassa a moral e as regras de uma sociedade!
Absurdo! Absurdo! Absurdo!
17/01/2009 15h36
Iata [iatalves@gmail.com]
Meus parabéns pela reportagem e à estudante Louise pelas observações levantadas, que porventura servirá para as pessoas que são leigos no assunto!
17/01/2009 15h28

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