quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A banalização da violência

Começo esse texto em sinal de protesto. Perdi meu pai para a violência. Um assassinato sem explicação, sem justa causa, se é que existe algo que justifique tirar a vida de um ser humano, sem se preocupar com o sofrimento que irá causar a seus familiares, amigos. Quero destacar que sempre convivi e convivo com a violência do dia a dia, tantos jovens assassinados na periferia de Maceió, ou pela droga, ou pelo crime, mas, quando se trata de alguém próximo de nós, é uma dor inexplicável, uma revolta, um eterno questionamento: Por que meu Deus?

Diante de fatos como esse quem está de fora deve pensar apenas que foi só mais um caso. Mas, a violência está mais perto de nós do que imaginamos. É preciso se indignar, cobrar das autoridades mais segurança, começar educando as crianças, disponibilizando trabalho para os jovens. Como um Estado tão pequeno como o nosso pode ser um dos primeiros no ranque da violência no Brasil? As pessoas são assaltadas constantemente nas calçadas, nos ônibus, em casa. Onde temos segurança?

Matar tem se tornado algo tão comum. As pessoas não se controlam, não sabem mais como resolver seus desentendimentos. Elas matam por uma briga de trânsito, matam para roubar um celular, queimam pessoas vivas, torturam a troco de nada, matam diariamente por uma pedra de crack, matam por ciúmes, matam por nada. E a sociedade finge que não vê. “Não é comigo!”. É com você sim. Amanhã pode ser seu filho, seu pai, seu irmão. É preciso haver revolta, é preciso haver indignação. Precisamos nos incomodar antes que essa banalização não tenha mais jeito.

Eu sou mais uma vítima da violência. Eu e meus três irmãos estamos sem pai. Ele não morreu, mataram ele. Ainda não temos explicações ou culpados, mas não podemos dar-lhe vida novamente, e isso é uma dor sem cura. A sociedade nos rouba a essência. Vivemos amedrontados, sem espontaneidade, sem alegria. Perdemos a vontade de acreditar nas pessoas. Perdemos a esperança de um dia o mundo ser um lugar bom para nossos filhos e, quem não tem filhos, se preocupa em tê-los. Vale a pena mandar mais gente para esse campo de concentração?

Contudo, quero terminar dizendo que jamais perderei a minha fé. O mundo nos rouba tudo, menos a nossa crença. Finalizo com um texto publicado nesta madrugada por Paulo Coelho em sua coluna no G1:

Matthew Henry é um conhecido especialista em estudos bíblicos. Certa vez, quando voltava da Universidade onde leciona, foi assaltado. Naquela noite, ele escreveu a seguinte prece:

Quero agradecer em primeiro lugar, porque eu nunca fui assaltado antes.
Em segundo lugar, porque levaram a minha carteira, e deixaram a minha vida.
Em terceiro lugar, porque, mesmo que tenham levado tudo, não era muito.
Finalmente, quero agradecer porque eu fui aquele que foi roubado, e não aquele que roubou.


Thayanne Magalhães

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