segunda-feira, 8 de novembro de 2010

31 mortes: Moradores de rua culpam a polícia e o tráfico por assassinatos

A reportagem do Fantástico que foi ao ar neste domingo (07) definiu como ‘massacre’ as 31 mortes de moradores de rua em Maceió. O assunto tem repercutido em todo o país e o Primeira Edição procurou os principais personagens dessa trama para tentar entender o que está acontecendo na capital alagoana.

João Antônio da Silva, de 52 anos, mora há 30 anos nas ruas de Maceió e sobrevive catando latinhas com sua mulher. Ele é natural da cidade de Ribeirão, em Pernambuco e há dez anos perdeu um dos olhos em uma briga com um ‘amigo’.

José Antônio acredita que a principal motivação para os crimes é o consumo de drogas. “Eu conheço muita gente que morreu por causa do crack. Os ‘caras’ fumam e depois vão roubar. Antigamente não tinha essa tal de pedra, agora é o ‘terror do mundo’. Eu acredito que a maioria desses assassinatos são por causa disso, e não existe grupo de extermínio”, afirmou o morador de rua, que vive entre o Centro da cidade e a praia da Avenida.

O catador de latinhas disse que não teme por sua vida, pois não tem envolvimento com drogas. “Durmo tranquilo embaixo da marquise de uma loja, todos os dias, sempre no mesmo lugar”, disse.

Helrison Gonzaga da Silva, de 28 anos, divide um pequeno barraco na beira da praia da Avenida com outras 4 pessoas. Ele vive da pesca e também cata latinhas. O jovem cresceu na rua. “Não sei onde moram meus pais. Fui criado pelo meu tio de consideração, que me achou na rua e me ensinou tudo que eu sei”, conta.

Helrison disse que acredita que as mortes dos moradores de rua está relacionada a um grupo de extermínio. “Eu acredito que essas mortes tem a ver com o uso de drogas, ou por causa de rixas antigas entre os moradores de rua, mas com certeza existe um grupo de extermínio, e com certeza tem muito policial envolvido nesses crimes”, afirmou o pescador.

“Eles – os policiais – deveriam fazer a segurança das pessoas, mas são os primeiros a bater, matar, roubar e ter contato com os traficantes”, disparou.

Bruno Antônio Bezerra de Oliveira, 49 anos, o ‘tio’ de Helrison, saiu de sua casa em Arco Verde, Pernambuco, aos 12 anos. “Meus pais me mandaram embora e eu vim parar aqui, em Maceió,. Encontrei Helrison na rua e mandei ele me acompanhar”, conta.

Bruno Antônio concorda com a opinião de Helrison. “Com certeza tem policial envolvido nessas mortes. Eles matam por nada, só por malandragem mesmo. Infelizmente vivemos com medo, acuados, mas não temos outra opção de vida”, disse o catador de latinhas.

Outro morador de rua, Jhonny David de Morais, 23 anos, também opinou sobre os casos. “Eu vim de Arapiraca para Maceió e me viro pescando e catando latinha”, conta o jovem.

“Sobre os assassinatos, eu acredito nas duas versões. Acho que muitos morrem por estarem envolvido com o tráfico de drogas, mas acredito mesmo que os policiais matam muito mais do que os traficantes”, acusa.

O Governo do Estado
Em matéria publicada na Agência Alagoas, o governador de Alagoas, Teotonio Vilela, determina que as investigações dos assassinados sejam reforçadas pela direção-geral da Polícia Civil.

Vilela determinou que até o próximo dia 22 todos os inquéritos relacionados a estes crimes estejam concluídos e sejam encaminhados à Justiça com os nomes dos executores e a motivação dos homicídios.

O governador também determinou que os moradores de rua que estão em situação de risco tenham apoio assistencial e a proteção do Estado, em uma ação conjunta dos órgãos da área de Assistência Social.

Fantástico
O Ministério do Desenvolvimento Social mostrou que em Maceió existem 312 moradores de rua em Maceió, e de janeiro até agora, 10% deles foram assassinados.

Entidades pressionam as autoridades responsáveis pelas investigações para que os casos sejam esclarecidos. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AL) divulgou a lista dos 31 mortos, temendo que as vítimas sem nome não tenham a mesma atenção do Estado e sejam enterrados como indigentes.

A Arquidiocese de Maceió também tem exigido respostas e o arcebispo Dom Antônio Muniz, disse em reportagem ao Fantástico, que considera a polícia de alagoas competente. “É dentro dessa perspectiva que eu exijo uma posição mais coerente, mais firme da polícia”, disse Muniz.

O promotor do Ministério Público Estadual, Alfredo Mendonça, do Grupo de Combate a Organizações Criminosas, que investiga os casos que podem envolver policiais, já denunciou 4 pessoa. “Dos 31 homicídios, 8 tem características de grupo de extermínio” afirma. Das 4 pessoas denunciadas, 3 são policiais, mas só um ex-policial está preso, Miguel Rocha Neto, o mesmo que matou uma pessoa em 2007, dentro de uma lan house.

Para o delegado geral da Polícia Civil de Alagoas, Marcílio Barenco, o fato da maioria desses crimes ter sido cometido com armas de fogo, caracteriza a atividade de policiais civis nos crimes.

Para a polícia os outros assassinatos foram causados por rixas entre os moradores de rua ou dívidas com traficantes de drogas, inclusive 4 acusados estão na prisão. O crack tem um efeito devastador nas ruas de Maceió, diariamente são noticiados assassinatos motivados pelo consumo da droga.

O Primeira Edição vai continuar acompanhando o andamento dessas investigações.

Thayanne Magalhães

Esta é a primeira da série de reportagens que farei nas manhãs do Primeia Edição Online. Sugestões de pautas serão bem vindas! ;D Paz e Bem.

Nenhum comentário: